1. Introdução:
Octavio Paz, influente pensador mexicano, utilizando uma forma muito peculiar de análise do homem social, as relações humanas a partir de certos recortes e especificidades, desenvolveu o texto Dialética da Solidão.
A partir de nosso trabalho, verificaremos o método argumentativo utilizado por Octavio Paz em sua dissertação. Para isto, tomaremos como objeto auxiliar, como apêndice de nossos estudos os textos “Um dialogo com O labirinto da solidão e Post-Scriptum de Octavio Paz”, de Maria Alice Aguiar e “Octavio Paz: as trilhas do Labirinto”, de Antonio Paulo Rezende. O estudo destas determinadas releituras sobre a obra de Octavio é importante para o processo de cognição do conhecimento, tendo estas novas visões a respeito de nosso texto base de leitura, agregando assim informações e referenciais. Isto nos ajuda a penetrar de forma mais concisa na essência teórica e textual de Paz, a fim de estabelecer uma unidade reflexiva com o autor, objetivando e concretizando a busca por seu método argumentativo.
Para o desenvolvimento da problemática, para concretizar o campo abstrato de nossa busca por um método argumentativo, materializamos esta teoria, identificando então seu método, saindo assim do campo de indiferença, tornando a pesquisa mais palpável. Para isto, tomamos como mecânica o levantamento da hipótese, do pressuposto de que Octavio Paz utiliza o método argumentativo indutivo. Chegamos a esta conclusão hipotética ao perceber que, em sua dissertação, Paz parte de afirmações particulares, através de alguns recortes específicos como, por exemplo, o amor, a mulher relacionada a este amor e à sociedade, a vida, a morte como processos solitários; exemplifica, através da criança, a recriação de mundo; a adolescência como consciência da solidão. Através dessas afirmações particulares, o autor busca chegar a uma conclusão maior, de cunho geral, em amplos conceitos dialéticos sobre solidão, como o próprio título introduz e, principalmente, relacionando isto ao homem social, seu posicionamento no mundo e na sociedade.
2. Análise
2.1 Tema do Texto Base / 2.2 Discussão
O tema do texto base em si, através da convergência das idéias, recortes, exemplos apresentados busca o estudo do homem social e seu enquadramento, posicionamento no mundo, na sociedade. Como que esta individualidade do ser humano mescla-se e interage em um campo amplo e geral. Onde, o coletivo de todas estas individualidades humanas cria o ambiente de vida humano, a sociedade.
O desenvolvimento de toda a tese analisada parte da problemática apresentada de que o homem moderno não se entrega a nada o que faz. Esse conceito leva Paz a afirmar que sempre uma parte do homem em si, a mais profunda, permanece intacta e alerta. Afunila este conceito, dizendo que como conseqüência decorrente deste processo da parte mais profunda do ser humano permanecer intacta e alerta, “o homem se espiona a si mesmo”.
A delimitação temporal é uma invenção humana com a finalidade de estabelecer-se divisões temporais para a criação de uma ordem no processo de desenvolvimento. Esta delimitação temporal imaginária acabou tornando-se concreta, real. Podemos fazer uma analogia a esta inicial abstração temporal que se torna concreto, com as fronteiras. As fronteiras territoriais são linhas invisíveis criadas pelos homens para delimitar terras e dar continuidade ao desenvolvimento de uma nação. Dentro de determinado espaço territorial concentram-se pessoas com semelhanças específicas para a constituição de determinada nação, como crenças, dialetos, culturas. Porém, dizer que estas fronteiras, assim como o tempo, permanecem no campo da abstração, da imaterialidade seria negar um grande lado de uma verdade que, neste ponto de vista, seria obscurecida. Fisicamente estas delimitações humanas são, de fato, abstratas, visto que não podemos “toca-las”. Porém, elas são tão concretas, que, por exemplo, presenciamos disputas Imperialistas pela obtenção de novas terras, novos mercados industriais que culminaram nas principais Guerras Mundiais. Disputas por algo que, em sua classificação inicial é abstrato, mas que gerou efeitos, conseqüências concretas. É um paradoxo, já dito por Albert Einstein, em sua Teoria da Relatividade, onde ele menciona que nada é Absoluto, tudo é Relativo. E, de fato, esta é a aparente, se não verdadeira (para termos certeza absoluta, necessitaríamos de ainda mais aprofundamento científico e descobrir itens ainda existentes na área hipotética), ordem de constituição universal.
Relacionando toda esta nossa reflexão sobre o tempo, as delimitações humanas a Octavio Paz, o pensador mexicano diz em sua tese que o homem utilizou a racionalização do tempo, a metrificação do mito para criar o horror.
Interpretando este pensamento de Octavio, quando ele infere ainda que “os sonhos da razão são atrozes”, ele está referindo-se ao medo do homem aproveitar suas sensações, se entregar à vida. O homem não se entrega, fica se limitando a possíveis e imaginárias conseqüências para atitudes que ainda nem realizou. E com isso ele desperdiça sua vida, os anos delimitados por próprios estudos humanos, criando um exílio que culmina na solidão pré-estabelecida.
Paz ainda complementa esta idéia ao inferir, por exemplo, que “é preciso sonhar de olhos fechados, é preciso entrega para partilhar e comungar. Viver cada instante sem saber o que vem depois. Mesmo que se destrua tudo e comece de novo”.
Não querendo direcionarmo-nos a um campo de clichês, é o emprego prático da famosa frase “Aproveite cada dia de sua vida como se fosse o último, um dia você acerta”. Entregar-se ao presente, sem temer o futuro. Afinal, você possui sempre uma opção de conseguir uma oportunidade nova arriscando, ou permanecer em um marasmo social, intrínseco ao âmago do ser humano.
É a aplicação, uma releitura do carpe diem. Carpe diem é uma frase em latim de um poema de Horácio, traduzida em seu conceito geral como “aproveitar o momento”. Muito utilizada em determinadas épocas literárias, principalmente na poesia inglesa dos séculos XVI e XVII, encontrada também no cinema, música, e até influenciando estudos sociais, como ocorre em Dialética da Solidão.
Continuando a análise do estudo de Octavio, ele conclui esta etapa do processo de pesquisa dizendo que, “através da solidão e da busca do amor, o homem se contradiz, mas se completa ao mesmo tempo”. É proposital este paradoxo para Paz, pois ele demonstra a tênue linha existente as ações influenciadas por desejos humanos, e as conseqüências, apresentando a instabilidade da essência humana que fica nesta contradição da busca pelo amor, mas a auto-limitação que acaba por afasta-lo da concretização de um objetivo, a obtenção de um resultado positivo.
3. Conclusão
Os exemplos utilizados, as análises e analogias criadas, os recortes específicos, nos levam à conclusão de que Octavio Paz utiliza o método argumentativo Indutivo por, como mencionado na introdução de nossa pesquisa, por partir de afirmações particulares, para chegar a uma conclusão maior.
Ao falar sobre as afirmações particulares de Paz, podemos analisar diversos pontos colocados pelo autor em sua obra. E, inclusive, discorrer sobre eles, uma vez que é um tema abrangente, e a forma de escrita e colocação dos dados por parte de Paz não nos inibe ao diálogo. Pelo contrário, a forma técnica textual aplicada por ele nos cria diversas visões, diversos prismas de observação, a fim de um debate rico ser criado para não convergir de forma aleatória, desorganizada toda a gama de informações acumuladas, todos os raciocínios dissecados, inclusive, por métodos arqueológicos foucaultianos, em uma unicidade de pensamento não completa, irreal. Inclusive, correríamos o risco, sem a possibilidade da discussão de idéias, de chegarmos a uma conclusão através do uso de nossas próprias ideologias e sentimentos. Evitar esta interferência no processo de estudo é tentar neutralizar a ciência, afastando-nos em determinados momentos de nosso próprio objeto de estudo científico, como já inferiu Durkheim em sus teorias, explicitado em seu texto O que é fato social.
É aparente este debate na obra de Paz, essencialmente por tratar de algo dialético. Uma vez que a idéia de dialética sugere, significa a luta de contrários, existe sempre uma versão diferente opondo-se a outra, cada um com sua carga de elementos teóricos cognitivos a ser analisado. Não é algo monopolizado no campo teórico, é algo, no mínimo, bipolar.
Dentro dos recortes específicos apresentados por Octavio, podemos citar a particularidade dele ao falar do amor, restringindo essa análise, a observação a determinados elementos, como:
- a descrição do amor dentro da sociedade, destacando a mulher, sua imagem e seu papel;
- o amor como escolha inacessível. Inacessível a partir de determinadas coerções morais, como interdição social, e a alienação religiosa, idéia cristã do pecado;
- a mulher que rompe com o mundo por amor;
- o homem também não tem acesso à escolha amorosa;
- o amor como instituição do casamento, conservação da sociedade, definido contra a sua própria natureza que é o rompimento (atacar o casamento é dissolver a própria base da sociedade – idéia pressente também no filme O Declínio do Império Americano);
- a proteção do casamento, comparativo à perseguição do amor / tolerância da prostituição – numa sociedade em que todos pudessem escolher, não existiria o divórcio, a prostituição, a promiscuidade, o adultério;
Além da análise do amor, ele também cria outros comparativos, e análises, como por exemplo, modernização de mitos, a citada afirmação de que os sonhos da razão são atrozes, solidão como nostalgia de um corpo a qual fomos arrancados (neste ponto vale uma regressão ao classicismo e estabelecer relações com alguns conceitos de Platão, ao que se enquadra ao Platonismo, o famoso amor Platônico, uma sensação de vazio existente por termos pertencido a um mundo perfeito, e estarmos atualmente em um mundo perfeito como forma de pagar por alguma dívida passada); nascer e morrer como experiências de solidão, o questionamento sobre a essência de o que seria a morte, um questionamento, incerteza de talvez o amor ser o início e o fim, entre muitos outros casos, recortes.
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