Paradigma “Pandoriano”

Muitos conhecem a famosa história da Caixa de Pandora, da mitologia grega. Resumidamente, Pandora era filha primogênita de Zeus, que foi enviada a Epimeteu, como um presente do deus do Olimpo. Zeus havia colocado na bagagem de Pandora uma caixa, que foi aberta por seu marido, Epimeteu, liberando assim todos os males que afligiriam a humanidade a partir daquele momento. No fundo da caixa, restou a Esperança.

A partir dessa lenda, podemos criar uma reflexão. Se males foram liberados sobre a humanidade, então como que grandes acontecimentos puderam ser criados? Como grandes momentos de realizações foram conquistados? E o que significaria e Esperança estar em uma caixa que continha todos os males da humanidade?
Uma interpretação possível no que diz respeito a estes questionamentos resultantes da convergência dos efeitos da lenda com fatos, acontecimentos reais é a seguinte: tudo depende do prisma pelo qual você vê uma situação. Problemas possuem um tamanho único, o que muda é seu ponto de vista em relação a ele. E, em sua grande totalidade, os problemas servem como uma secreta ferramenta de uso peculiar para a concretização de um acontecimento, para trilhar um caminho de conquistas.
Podemos relacionar estes fatos, características citadas a Alberto Saraiva. O médico, o padeiro, o empresário, o gênio que, utilizando uma visão contra-hegemônica financeiramente e empresarialmente e, com base na necessidade gerada de um problema particular, criou a importante rede de comida árabe, o Habib’s.
Saraiva, desde pequeno possuía o sonho de tornar-se médico. Mudou de Santo Antônio da Platina (Paraná) para São Paulo, após passar no vestibular, na década de 70. Estando em um território novo, desconhecido, a família precisaria adaptar-se a situação, criar uma forma de obter capital para suas despesas. Para suprir esta finalidade, a família portuguesa abriu uma padaria no Brás. Porém, enquanto Saraiva cursava o primeiro ano de seu curso, um assalto ao estabelecimento, por meios de violência extrema, tirou a vida de seu pai. A partir desse momento, Alberto viu-se na necessidade de tocar o negócio da família, a única fonte de renda que possuíam.
Ao assumir a nova responsabilidade, ele depara-se com um problema-base. A região possuía muitas padarias, ou seja, um grande nível de concorrência. Dotado de um natural senso para negócios, ele logo percebeu que, em um posicionamento de igualdade, vence quem se destaca. Conseguiu esse destaque através da inovação, de criar promoções, atraindo os clientes. A promoção aumenta então sua clientela, a nova demanda gera o aumento de produção e, como reação a isto, ele ainda consegue a diminuição de seus custos. Após o sucesso em sua padaria, executou positivas investidas em pizzaria, churrascaria e pastelaria.
Saraiva consegue concluir seu curso de medicina, ficou dois anos em um pronto socorro, na parte de clínica médica. Porém, após esse tempo, com grande bagagem técnica de desenvolvimento das receitas utilizadas em suas investidas alimentícias anteriores, somado ao seu grande potencial comercial, Alberto faz uma decisiva escolha de contratar um cozinheiro árabe. Com isto, Saraiva somou ao seu extenso repertório, as técnicas de cozinha árabe, ensinadas por seu novo funcionário. Conversando com seu cozinheiro, Alberto percebeu que redes alimentícias especializadas no cardápio desse país do Oriente Médio eram poucos, e os que existiam eram de difícil acesso, devido aos preços elevados cobrados. Decide então abrir um fast-food de comida árabe. Porém, a idéia dele não se limitou a esse conceito. Assim como fez em sua padaria, ele planejou um cardápio com preços acessíveis (aqui entra a característica contra-hegemônica que citei no início do texto, visto que cobrar preços elevados, por ser predominante, era a idéia hegemônica associada a este tipo de rede alimentícia), e incluiu aos produtos oferecidos pizzas, pastéis e chope, uma vez que já havia trabalhado com essa linha de alimentos. Outro elemento importante que caracteriza os pratos servidos no Habib’s, é que ele adaptou o sabor dessas iguarias ao paladar nacional. Isso mostra a genialidade de Alberto. Afinal, de princípio ele notou essa necessidade de adaptação ao paladar. Podemos notar seu bom senso para os negócios, fazendo um paralelo com a Pizza Hut, que faliu duas vezes no Brasil até conseguir entender o que o gênio do fast-food nacional percebeu tão rapidamente.
Em 1988 ele abre, então, sua primeira loja. Algo que começou sem grandes ambições, anos mais tarde expandiu-se não apenas nacionalmente, mas chegando a países como México, posteriormente Portugal, França, Espanha, atraindo ainda a atenção dos russos.
Habib’s está em grande processo de expansão, e sempre atualizando, inovando, conseguindo cutucar o gigante do fast-food, Mc Donalds. O palhaço Ronald com certeza adoraria achar uma garrafa com um gênio, e assim possuir três desejos para se livrar do atual gênio árabe que o incomoda.
Esta história pode ser encontrada no livro Mandamentos da Lucratividade, escrito pelo próprio criador da maior rede nacional de fast-food.
Além da história da criação, progresso, elaboração das franquias, desafios encontrados no processo de desenvolvimento do Habib’s, o livro torna-se um guia de grande importância para quem quer abrir seu próprio negócio. Não apenas analisando a trajetória de Saraiva, como um estudo de caso, um estudo específico, mas o autor fornece dicas preciosas e motiva as pessoas a lutarem, batalharem, esforçarem-se pelo que acreditam, concretizarem a idealização, acreditando que tudo é possível.
Porém, não se limitando apenas ao marasmo do campo da auto-ajuda. Da utopia sem bases concretas, o sonhar sem planejar. Muito pelo contrário, ele oferece dicas práticas para lidar com diversas situações da área administrativa.
No Prefácio, o autor trata de conceitos mais abrangentes, sobre a possibilidade das realizações, as limitações financeiras que podem desmotivar alguém inicialmente. O motivo de poucos conseguirem concretizar e frutificar o sonho de se tornar um comerciante, entre outros conceitos.
Após o prefácio, a gama de raciocínio vai se afunilando, separando-se em determinadas categorias, com a finalidade de facilitar a compreensão do leitor, e sorver os ensinamentos oferecidos.
A primeira parte do livro trata, por exemplo, dos cuidados e estratégias que devem ser valorizadas quando tratamos do atendimento ao cliente. Lembrando que Saraiva, na questão de atendimento, realizou uma importante inovação em seu fast-food, além do preço acessível, que é a forma de atendimento, utilizando o serviço de garçons, algo contrário de seu concorrente, Mc Donald’s.
Nesta parte do livro, ele intercala suas valiosas dicas com a história do surgimento de sua rede, de sua jornada de médico a padeiro, incentivando as pessoas a mudarem, transformarem-se, adaptarem-se, inovarem.
Utiliza, inclusive exemplos, e estudos de caso, além de seu particular, como o encontrado no capítulo sobre o velhinho da Lins de Vasconcelos.
Ainda nesta parte do livro, aprendemos a lidar com a eficiência do atendimento, satisfazer as necessidades dos clientes, ter os olhos atentos e ágeis ao seu ambiente empresarial, de marketing, negócios. A valorização de aceitação de determinadas propostas, que podem ser novas portas abertas para oportunidades. Ainda cutuca, de certa forma, quem não dá tanta atenção à concorrência, e não analisa de forma profunda seu público, criando então exagerados aumentos de preço, chegando a empregar para isto o termo de “doença genética”.
Muitas pessoas possuem idéias geniais, mais as considera malucas, e usam um pré-conceito de que não funcionarão, não são usuais. Essa barreira é quebrada por Saraiva, que mostra que essas idéias malucas podem, de fato ser geniais, a necessidade da audácia, de arriscar, que é uma das características e princípios para a realização de uma atividade empreendedora.
Já na segunda parte da obra, ele foca-se em oferecer uma visão e realidades quando tratamos sobre despesas. O cuidado com as despesas é primordial para o bom funcionamento e manutenção de um negócio. Afinal, o lucro para uma empresa funciona como o oxigênio para o ser humano, é fundamental para a vida.
Utiliza comparações bem criativas, chegando a utilizar até mesmo o presidente da república como elemento comparativo. Ainda nos alerta para “arapucas”, armadilhas que podem ser encontradas no caminho, a tentação, as falsas facilidades que podem funcionar como uma faca de dois gumes. Faz analogias e projeções de realidades, convergindo elementos, idéias e teorias, como a comparação entre você administrar seu negócio, e governar. Nesta parte, no conceito de governar, ele ainda apresenta a dialética de cortar as despesas, ou pagar por elas.
Afinal, cortar as despesas é algo muito complexo, que necessita ser feita de forma inteligente, sem que se desequilibre a equação de custos/benefícios, não prejudicando assim o valor percebido que seu cliente tem sobre seu produto, não alterando negativamente a percepção que ele possui. Afinal, o real valor de algum serviço/produto é associado de forma direta à percepção que o cliente possui deste.
Todo esse contexto, esses elementos são analisados e refletidos por Saraiva, que nos atenta, promove uma reflexão, expandirmos nossa mente, percepção e assim elevarmos nossa produtividade, eficiência e mantendo sempre a qualidade.
O livro ainda possui mais duas partes de grande importância, completando o contexto de análises e observações, como os cuidados dispensados com vendas, e cuidando das pessoas, relacionando com suas funções.
Em síntese, é uma obra de grande valor e fundamental importância. Baseado na evolução que Saraiva teve, seu desenvolvimento, a partir de uma necessidade gerada por um grave problema, sua adaptação e genialidade, caracterizo sua vivência como um paradigma pandoriano. Ou seja, a partir do momento em que a caixa de Pandora foi aberta para sua vida, ele não se abalou com esses problemas, nem com os futuros que surgiram. Pelo contrário, os utilizou como ferramenta para seu pleno desenvolvimento que faz com que ele seja hoje o dono da maior franquia nacional de fast-food.
Sobre a esperança que restou no fim da caixa de Pandora… Bem, essa esperança foi incorporada em sua obra bibliográfica, que motiva e orienta os futuros comerciantes…

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