O livro “Tudo o que você precisa saber sobre televisão para nunca passar vergonha” é muito peculiar. Ele trata o tema televisão, através de parâmetros técnicos e vários exemplos, de diversas localidades do mundo, porém, com o elemento que caracteriza o texto, e é primordial para tornar a leitura interessante: o bom humor.
Sem dúvidas é muito mais confortável quando você lê um texto que, apesar de ser em parte técnico, apresenta traços bem humorados, uma redação de fácil leitura, compreensão. Consegue, através da simplicidade e aparente inocência da concisão textual, transmitir toda sua gama teórica, ideológica todo seu conteúdo técnico e histórico.
É muito interessante observar a abrangência e amplitude textual.Fato concretizado através das diversas características, estilos, profissionais, meios, abordados pelo autor. O livro trata todos os tipos de televisões existentes, a idéia, estrutura, formato dos programas, comparando-os e explicando-os de uma forma suave e divertida. Fala sobre os programas jornalísticos, documentários, programas de entrevistas, de auditório, programas cômicos, entre outros.
Fundamentalmente, o texto aborda os profissionais envolvidos nas produções televisivas, como câmeras, assistentes de câmera, iluminador, diretor, editor, a parte mais envolvida com engenharia, técnicos de áudio. Com isso notamos que o trabalho de criação televisiva é cooperativo. É impossível uma pessoa sozinha realizar o trabalho de todos esses profissionais. A cooperação é necessária para que se tenha o resultado final com um conteúdo que, teoricamente, deveria ser apresentável. Porém, como o próprio texto demonstra, existe muita futilidade, coisas mal feitas, exageradas na televisão. Eufemismos esses para tratar do lixo televisivo, muito comum, infelizmente na atualidade.
A dualidade apresentada em certos momentos do texto é muito interessante. Por exemplo, existem profissionais que, teoricamente, desempenham o mesmo processo, a mesma função, porém em veículos midiáticos diferentes, utilizando-se de técnicas e meios que chegam até a oporem-se em certas características. O clássico exemplo dos editores de vídeo e os editores de filme. Nesse caso, chega até mesmo a existir uma rincha esses dois tipos de profissionais. Críticas voltadas, de forma sucinta, ao excesso de conservadorismo técnico dos editores de filmes, e a “arrogância” dos editores de vídeo por considerarem sua tecnologia superior aos de filme. Ou seja, profissionais que possuem funções de semelhantes objetivos, mas que apresentam dialética ideológica.
Caracterizando-se por ser um “manual do blefador”, esse livro diverte através de uma possibilidade muito legal que ele nos explicita (na realidade, que ele possibilita para os espectadores, porque isso acaba sendo uma pedra no sapato para os produtores), que é identificar erros e deslizes das produções. Como, por exemplo, onde ele cita o meio para notarmos quando o teleprompt enguiça. Teleprompt enguiçado para os apresentadores é como imposto para trabalhador, assusta e causa pesadelos. Inclusive, desmanchando certas fantasias para os desinformados, como a existência dos efeitos de Chroma Key, e os cenários de plástico e papelão. Na realidade, o vasto jardim que você está vendo na novela, há uns dias atrás não passava, por exemplo, de uma embalagem de TV comprada nas Casas Bahia, ou qualquer loja. Podemos até criar uma comparação em relação a esse cenário e dizer que há uns dias atrás a tevê estava dentro dele, hoje é ele que está dentro da TV. Uma composição simples e inocente, bem física até, mas que poderia facilmente ser transformada em um caótico debate filosófico, ideológico pelos grandes contestadores do mundo, que querem achar sentido até na forma que alguém espirra… Já os imagino associando essa comparação com relações de poder, onde hoje você domina, e amanhã você é o introjetado dominado.
O texto apresenta dados sobre conceitos muito polêmicos, como a bendita medição do índice de audiência, onde os apresentadores fazem de tudo para tentar disfarçar a importância e o interesse nessa medição.
Para compreender aspectos televisivos, devemos conhecer melhor a televis… opa… o monitor. Afinal, de acordo com o autor, aplicar o termo televisão para referir-se àquela caixa de tubos caóticos é incorreto. O certo seria aparelho de televisão (por simplicidade), receptor (por autoridade), ou monitor (por praticidade). Bem, de qualquer forma, para compreender os aspectos televisivos, devemos conhecer melhor o monitor, a história dessa ferramenta midiática, seus dados. Isso é apresentado também no texto. Desde um breve histórico dessa mídia, a origem, passando inclusive por uma análise etimológica da palavra “televisão” (mistura confusa de grego e latim que no fim não traz o sentido que deveria expressar, na análise da constituição dessa palavra), até chegar em sua composição física, como ela funciona fisicamente.
Ao final do texto, o autor ainda faz um pequeno glossário apresentando, novamente de forma inovadora e bem humorada, o significado de determinados termos utilizados nesse campo comunicativo.
Aos aparecidos de plantão, que gostam de aparecer até em foto 3x4 de R.G., o texto apresenta dicas cruciais para quando você aparecer na TV, conseguir agradar e se adaptar a esse veículo. Focando muitas vezes a forma de apresentar a mensagem, em detrimento do conteúdo.
Pela forma a qual as profissões são apresentadas, pode causar certo constrangimento a determinados profissionais. Como os operadores cênicos, que devem, segundo o autor, serem ignorados pelos blefadores (se bem que pode até ser positivo quando um blefador te ignora…Nunca se sabe…). Já outros, devem esboçar um sorrido de orelha a orelha em suas faces, ao terem a abstração de dores e feridas de seus âmagos concretizadas e eternizadas em palavras de um texto que compõe um livro, simbólico instrumento de erudição e cultura! Oh… Que construção profunda… Através de toda essa balela, simplesmente quis dizer que imagino um assistente de estúdio lendo o texto e berrando aos quatro cantos de forma animada, e dando piruetas: “Oba!!! Alguém me compreende!! Alguém sabe o que eu sinto escutando toda hora as broncas daquele diretor tão carrancudo!! Oh, minha vida agora tem sentido”. Na realidade, os assistentes de estúdio devem se considerar com sorte. Pois muitas pessoas meditam e refletem para possuir uma voz em suas mentes, que denominam de consciência. Eles, já possuem uma voz extra, denominada “berro do diretor”.
Outra característica legal da redação é que, através do texto, conhecemos grandiosos nomes de pessoas merecedoras de serem citadas e associadas à televisão (pessoas essas que, segundo o autor do livro, podem ser contadas nos dedos da mão e, se você tiver sorte, pode até chegar a tirar uma meia para efetuar a contagem), como por exemplo Lew Grade, David Frost, Richard Dimbleby, Walter Cronkite, entre outros. É… “E é assim que as coisas são…”
Finalizando, após ler o texto, pensar, raciocinar sobre todas as apresentações, sobre comédias que não tem graça, novelas que pouco inovam, longos programas de atualidade que pouco informam, considero essa uma ótima leitura. Claro que, devido ao estilo do autor, e da própria coleção do manual do blefador, como o próprio nome sugere, a análise à tevê é feita de forma muito perjorativa, escrachada e satírica, apresentando muitos pontos “negativos”. Porém, sabendo que isso faz parte do estilo, estética autoral, torna-se uma leitura bastante informativa, onde você descobre muitas curiosidades, fatos interessantes e especificidades desse “telerama”, da “proculvisão”, ou seja lá por qual outro nome você queira relacionar a caixa de cubos caóticos (atualmente modernizada com tecnologias de LCD) que você possui em sua sala.
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